Espêice Fia

Impressões havaianas

North Shore de Oahu, Hawaii

Picos como Sunset Beach recepcionam em grande estilo o nosso colunista no Hawaii. Foto: Fábio Gouveia.
Homenagem ao lendário Buttons Kaluhiokalani. Foto: Fábio Gouveia.
Mensagens aos visitantes do North Shore. Foto: Fábio Gouveia.

Como é bom estar mais uma vez no North Shore. E o melhor é quando se chega com o mar bombando. No meu segundo dia na ilha de Oahu, já peguei a gunzeira 9’6 e desfrutei do surf em Waimea. As boias marcavam 14 pés com 17 segundos durante a noite e o que vimos foi um mar bem consistente e muito forte.

Sunsetão big naquele dia de disputas (29/11) do já finalizado Vans World Cup e, como todos já sabem, Raoni Monteiro fez mais um ótimo resultado (terceiro) e permanece na elite.

Em Waimea, tive a companhia de André Rei, famoso baiano big rider brasileiro da década de 90. Com a sua incontestável gunzeira vermelhona, André disse estar se readaptando ao tempo e às condições, já que vivendo muito tempo na ilha de Maui, agora pretendia estar no North Shore dropando em Sunset e na sua amada baía de Waimea.

Mas, como surfar é  a mesma coisa que andar de bicicleta, o cara nunca esquece e ele estava lá dropando as morras. Nesta queda, Keale Lemos, filho do fotógrafo e videomaker Bruno Lemos, desceu uma onda junto com ele e mais um amigo. Os moleques estavam soltos! Em uma das ondas, eu desci e só depois me dei conta de que eles droparam atrás.

Foi legal ver a turma no line up elogiando a galera. Entre ondas e esperas, bati papo com o ex-atleta profissional da ASP, Mike Parsons, que estava aproveitando uma folga em seus trabalhos com treinamentos de atletas. Sempre vindo por trás do pico, mostrava seu apetite por ondas grandes.

O pico do swell parecia ter sido à noite, e aos poucos as ondas iam baixando, aliadas à maré cheia. Mesmo assim, minha saideira foi eletrizante, quando dropei nas últimas devido ao terral e completei até a beira. Nunca tinha usado uma quadriquilha em pranchas grandes. Agora deu pra constatar o porquê de a grande maioria dos big riders estar usando. Com este conjunto, a prancha corre mais e vira melhor e mais rápido, em baixo e em cima.

No meio da tarde, fui acompanhar meu filho Ian, que pela primeira vez corria um Prime em Sunset. Para lhe ajudar, entrei remando em uma e com uma outra prancha reserva ,já que se fosse apenas com uma, teria de levar um par de pés-de-pato, pois, caso quebrasse a prancha e precisasse da reserva, o jet-ski de apoio não poderia me ajudar.

E posso lhes dizer que nunca vi uma corrente tão forte em Sunset. Em parte porque nunca havia ficado ali parado no inside, ou seja, sempre estava passando batido para o outside e das vezes em que havia ficado com pranchas reservas para atletas, o mar não se encontrava tão grande.

Para não correr o risco de quebrar uma das pranchas caso uma série no canal me pegasse desprevenido, fiquei um pouco mais ao fundo, depois da famosa bolha do inside. Resultado: a cada grande série que passava, o escoamento de água era tão absurdo que em segundos me arrastava para o outside. E haja remar de volta com uma âncora atrás, pois às vezes, devido aos bumps, a outra prancha acabava emborcando e a rabeta fazia o ponto negativo.

O resultado foi que remei durante uma hora e fiquei bem cansado. Vendo Ian e os outros competidores na bateria, bateu aquele frisson. Foram muitas lembranças. Neste dia vi alguns brasileiros andando muito bem, e dos que gostei, Peterson Crisanto mostrou um belo amadurecimento. 

Apesar da pouca estatura, trabalhava sua prancha como se tivesse muito mais peso, segurando a força de Sunset em momentos bem críticos, o que é bem difícil. Naquele final de tarde, Pipe – que já tinha bombado forte durante toda manhã – estava lindo e não muito menos pesado. Acabei não caindo devido ao cansaço. Vi duas boas ondas de Deivid Silva – uma enorme de Banzai e um tubo no qual ele não ficou muito deep, mas segurou bem na boca quando o spray fazia pressão em sua rabeta.

Vi também alguns tubos cavernosos no Backdoor e quando olhei de relance, estava lá Thiago Camarão a milhão em um paredão. Lembrei até de uma onda grande que o  Carlos Burle pegou para o mesmo lado em um longínquo inverno, recebendo elogios na época de Shane Dorian.

E aproveito pra citar, claro, John John e sua magnífica destreza por dentro dos cilindros. Sua calma é impressionante. Espetáculo para se ver. Em uma de suas ondas, veio mais deep e, quando a craca ergueu, o havaiano botou de layback. Foi incrível. 

Bom, no dia seguinte, quando meu cansaço passou, bateu o arrependimento de não ter caído, afinal não dá pra esquecer que pode não rolar outro mar daquele durante a minha passagem aqui pelo Hawaii.

Mas, o dia ainda continuou com altas ondas, mas também aí, meu amigo, segura o crowd! E por falar nisso, a cada ano o número de pessoas na água e de carros na rua vai cada vez mais distanciando a mágica do lugar. No entanto, é claro, para quem vem pela primeira vez, é tudo uma maravilha. E mesmo pra quem está acostumado e sabe que um dia já foi melhor, pra quem curte o aloha spirit, tudo está ótimo!

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